segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A quadratura dos círculos

Este é um quadradinho sobre as pessoas, que estando ao volante de um carro, se portam como senhores feudais, sem no entanto, prestar a devida vassalagem ao rei. Nesta analogia, o rei são todas as pessoas que estão a fazer o mesmo, ao mesmo tempo e todas as outras, que não possuindo um castelo, andam nos arredores. Podia ter feito a analogia com uma barata alcoolizada, mas seria ofensivo para as baratas.
Hoje o tema são as rotundas e as suas idiossincrasias, mas como este blog é aos quadradinhos vou ilustrá-lo, para tentar explicar melhor.

"Isso está certo?" ou "Isso é direita?"
Qualquer das definições que escrevi na legenda, se aplica ao nosso caso de estudo. Só há uma situação onde se faz pisca para a esquerda numa rotunda: Se formos mudar de faixa DENTRO da dita.
Meus caros companheiros de estrada, fazer sinal para a esquerda antes de entrar num rotunda é errado, nós vamos sempre para a direita, sempre! Entramos a circular à direita, saímos SEMPRE pela direita. Como disse ali atrás, só fazemos sinal para a esquerda, para avisar os outros condutores que vamos mudar de faixa DENTRO da rotunda, é parecido com o que fazemos numa ultrapassagem.
Este artigo faz parte de uma campanha nacional que estou a começar, contra o pisca para a esquerda nas rotundas, eu sei que não faz mal a ninguém fazer pisca para um lado ou para outro, porque toda a gente vai para SEMPRE para a direita de qualquer maneira, mas é um bocado como sinalizar quando se aproxima uma curva: curva à esquerda, pisca para a esquerda, curva à direita, pisca para a direita, e ninguém faz isso pois não?

Já agora aproveito ter usado a palavra pisca tantas vezes para sublinhar a sua definição técnica.
Indicador de mudança de direção. Ora aí está, sublinhado e tudo. Aciona-se o pisca, para avisar os nossos pares que queremos mudar de direção ou faixa. O pisca não dá automaticamente autorização para o fazer. Ouvimos muitas vezes após acidentes na estrada, "Mas eu fiz pisca!" - e se calhar fez, mas isso não lhe dá o direito de mudar de direção, serve apenas para avisar que deseja mudar.
Aliás, o "sinalizar a manobra", é a segunda regra da técnica ESM. Se não se lembra da altura em que fez exame de código, eu relembro.

ESM:

E - Espelho, primeiro inspecione visualmente o seu ambiente em trezentos e sessenta graus (se também se esqueceu, significa: tudo à volta) usando (todos) os  retrovisores.

S - Sinalize a manobra, para mostrar a sua vontade aos outros. Use o nosso amigo pisca.

M - Manobre se puder. Agora sim, pode mudar de faixa, ou virar para onde desejar.

Há situações, onde o sinalizar é apenas uma simpatia para com os outros, mas na maior parte dos casos, é demasiado importante para nos esquecermos do seu uso correto.
Só mais uma que envolve piscas. Os imprescindíveis "Quatro piscas". Vamos, para já, esclarecer uma coisa, o nome técnico é "Luzes de Perigo". E servem só para isso, para assinalar perigos, como por exemplo avarias nas luzes principais ou diminuição brusca de velocidade. A grande maioria dos condutores, nossos colegas nas estradas e ruas, usa-os como indicador de estou-a-fazer-merda-mas-não-me-demoro, sendo que o "não me demoro", pode ser o tempo suficiente para tomar um café, ou registar o euromilhões. Se estiver estacionado em segunda fila, e as pessoas prejudicadas pela sua decisão começarem a mandar vir consigo, não responda: "Eu tinha os quatro piscas ligados", porque além de demonstrar que é uma besta, ainda por cima não sabe o código da estrada.


Outra situação muito comum nas rotundas, e que já não é tão inócua como a anterior, é que a faixa para sair é SEMPRE a exterior. Isto está escrito na lei e nem precisava, porque me parece óbvio que se uma pessoa atravessar perpendicularmente as faixas de uma rotunda para sair, pode provocar (e muitos já o provocaram) acidentes.
O meu trajeto diário de senhor feudal, leva-me a uma rotunda, onde vejo companheiros a trespassar duas faixas. Vão a circular na mais à esquerda e quando chegam ao pé da saída, cruzam, sem piedade, a faixa do meio e a exterior, independentemente de quem lá vier. Meus caros, sair tem de ser sempre a circular pela faixa de fora, a tal da direita. Há uma pequeno pormenor nisto: não vale entrar na rotunda e continuar alegremente a circular pela faixa mais à direita até encontrar a saída desejada. Não pode fazer isso e se o fizer, fica sujeito a multa. Portanto, para sair tem de ir na faixa exterior, mas só imediatamente antes da sua saída.

É difícil?


Já agora mais um aviso que os pode ajudar a evitar multas, este acho que toda a gente sabe, mas há quem se esqueça, quem vai a circular tem SEMPRE prioridade, mesmo se for uma bicicleta (e atenção porque estas podem andar sempre na faixa exterior). Não tente entrar à pressa, pensando que "dá tempo". Isso só vai causar problemas a quem vem inevitavelmente mais depressa, já que normalmente você está parado e travar bruscamente porquê alguém pensou que tinha tempo, enquanto se circula numa rotunda, pode levar a situações que ninguém gosta.

Vou resumir até este ponto. Você chega a uma rotunda, deixa a manete do pisca-pisca a descansar, entra na rotunda em espiral, apenas se não estiver um colega seu a andar lá. Uma vez que se encontre a circular, não o faça pela faixa exterior, mas por uma das outras, quando se estiver a aproximar da sua saída, migre de uma faixa para a outra, em espiral, até se encontrar na de fora, precisamente antes da saída, e desta vez, use o pisca da direita. Se não conhecer o local, não custa nada, faz como eu e alguns companheiros, dê mais uma volta à rotunda; atravessar faixas "à parva" é perigoso, proibido e incivilizado.

(no comments)

Mais um tema à volta das rotundas. Parar. Isto dito assim, parece normal, até porque ninguém circula na faixa da direita, portanto os senhores que inventaram esta coisa das rotundas devem ter deixado a faixa de fora, para nós podermos parar para largar ou recolher passageiros, pedir indicações sobre o caminho ou para telefonar em segurança. Não, não é. Não se pode parar numa rotunda! Nunca, em situação alguma. Nem que seja para deixar a sua esposa grávida de oito meses. Uma vez que você é supostamente o único culpado disso,  não vejo razão para meter mais gente ao barulho, provocando buzinadelas, travagens e acidentes. Em jeito de rodapé, neste assunto de parar nas rotundas, você sabe que em cima das zebras também não se pode parar? certo?


Para terminar, umas palavrinhas aos senhores que planeiam estas coisas. Nós, as baratas bêbedas, temos a nossa quota parte de culpa, porque vos elegemos e confiamos em vocês, mas às vezes pergunto-me se vale a pena, porque os senhores são tão fraquinhos, tão pouco dedicados, que até dói.

Nas câmaras municipais e juntas de freguesia que decidem colocar rotundas por todo o lado, parem tudo o que estão a fazer e perguntem a vocês próprios: Porque queremos rotundas, neste ou naquele local?
Se não quiserem parar o que estão a fazer, porque são pessoas muito ocupadas, eu digo:
Fazem-se rotundas porque são menos perigosas que os cruzamentos e permitem que o trânsito escoe mais facilmente do que com semáforos. As estátuas, fontes, árvores e placas que os senhores metem lá no meio, são permitidas, mas não podem existir muros ou obstáculos que impeçam a visão e obstruam o movimento, em caso de despiste, está na lei!.
Como o planeamento de uma rotunda, não é só pegar no compasso e desenhar um circulo, no mapa da cidade, há que pensar nos peões que também andam por lá às voltas. Acertou senhor vereador, é preciso colocar algures por ali, passadeiras de atravessamento de peões. Agora desculpem-me as pessoas que estão a ler isto e que não contribuíram para a implementação de rotundas, mas tem de ser em maiúsculas:

SE A PASSADEIRA ESTIVER A 3 METROS DA SAÍDA DA ROTUNDA É PERIGOSO PARA OS PEÕES PORQUE OS CONDUTORES PODEM NÃO TER TEMPO DE PARAR, POR OUTRO LADO SE EXISTIR UM SEMÁFORO PARA ATRAVASSAMENTO MANUSEADO PELOS PEÕES, O TRÂNSITO DENTRO E À VOLTA DA ROTUNDA, VAI FICAR PARADO! ISTO, PORQUE A D. MIQUELINA ANDA A PASSEAR O CÃO, ÀS SEIS DA TARDE E PRECISA DE ATRAVESSAR PARA O JARDIM, PRECISAMENTE QUANDO A MAIORIA DOS MORTAIS VOLTA PARA CASA DE CARRO OU TRANSPORTE PÚBLICO.

Por causa da D.Miquelina ter carregado no botão do semáforo, dezenas de pessoas ficam paradas, as vias de acesso ficam cheias, eu acho mesmo que algures no mundo morre um golfinho por causa disto.

Por favor planeiem as coisas como deve ser, não faz sentido gastar o dinheiro dos nossos impostos para podermos andar melhor pela cidade, e depois sabe-se lá porquê, esquece-se este principio, instalando semáforos manuais por todo o lado que fazem com que por causa de um peão, muitas outras almas estejam paradas, em ambos os sentidos. Já me acontecceu demasiadas vezes, às sete da manhã, um peão chega ao semáforo, carrega no botão, e como não vem carro nenhum, atravessa.
Chego eu ao semáforo, e está vermelho. Tenho de parar para não ficar sem carta, e o peão já foi à sua vidinha, sem remorsos. Os semáforos democráticos são uma praga. É dar um poder ao povo que não sabe o que fazer com ele.

E é isto.

Banda Sonora: Steve Hacket - Genesis Revisited