terça-feira, 8 de novembro de 2016

Quarenta e Três






Quantos mundos existem?
Esta pergunta, não tem nada de metafísico ou cósmico. Eu apenas me proponho a contar os mundos que existem, neste planeta. Ele há o primeiro mundo, o segundo suponho que exista, mas do qual nunca se ouve falar e o mais badalado: o terceiro mundo.

Ora parece que a divisão do nosso pequeno planeta em mundos, foi feita após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a entrada em cena da Guerra Fria. Primeiro Mundo era o que chamamos o Ocidente, os que se alinharam do lado de cá, Segundo Mundo os do lado de lá - já percebem agora porque nunca se fala do segundo mundo - e todos os outros formavam o Terceiro Mundo. Segundo o artigo da Wikipédia*, que vale o que vale, neste Terceiro Mundo, estavam todos os outros que não participaram, ou que não estavam geograficamente perto do conflito e onde encaixava, por exemplo: a Suiça.

Como o Homo Sapiens Sapiens, não consegue viver sem etiquetas, estas foram logo adotadas e como a mesma espécie, também não consegue contar um conto, sem acrescentar um ponto, chegámos à definição atual. Primeiro Mundo, os países e respetivos povos que vivem melhor ou seja IDH  (Indice de Desenvolvimento Humano*) mais elevado, do Segundo Mundo não há registo, e o Terceiro Mundo lá continua, com o resto, ou seja, paises e povos cujo IDH está abaixo de determinado nível. Mudaram os significados, as etiquetas mantiveram-se.

Rapidamente chegamos à conclusão que é o IDH que manda na ordenação dos países e que algures existem limites divisores que determinam a posição de um país num ou no outro mundo.

Se levarmos à letra esta classificação, poderemos pensar que, por exemplo, não há pessoas com rendimento muito baixo ou com deficiente assistência médica, na Noruega (IDH = 1), ou que não encontramos Moçambicanos (IDH = 180) a comprar roupa nas boutiques caras de Paris.
O que se passa aqui são o raio das médias! As médias eliminam a individualidade e normalizam números.
O nosso cantinho, como gostamos de chamar a Portugal e que por acaso, eu acho que é uma pontinha, tinha em dois mil e quatorze um IDH de quarenta e três. Não é mau. Quarenta e três, não é mau como média, mas olhando para os meus compatriotas que se cruzam comigo diariamente enquanto pisamos ruas de nível quarenta e três, faço o seguinte jogo mental: 'Este usa um polo Burberry deve ser um trinta e três", "Tu andas com os ténis sujos e velhos estás, de certeza, abaixo dos cento e sessenta e um". Estão a perceber onde quero chegar?

Não podemos ficar calmamente dentro dos limites da nossa etiqueta e esperar que nada mude à nossa volta. As nossas vivências consomem IDH, são dinâmicas e decaem se não introduzimos energia no sistema. Se todos ficarmos contentes com o quarenta e três,  descemos para o quarenta e quatro num instante. O nível quarenta e três, está no limite inferior, da fatia superior do IDH, o chamado VHHD (Very High Human Development) e que vai até ao quarenta e nove - deve ser este o primeiro mundo.




Portanto, quando uma câmara municipal, favorece descaradamente este ou aquele empresário, ou contrata demasiada gente para o departamento de cultura, ao mesmo tempo que tem o IMI no limite superior e as ruas cheias de buracos: dê um passo em frente e defenda o quarenta e três.

Quando verificar que um empreiteiro sem escrúpulos, está a descarregar entulho na mata, ou que a RTP está a gastar o nosso dinheiro em transmissões de missas ou corridas de touros, deseducando: dê um passo em frente e exija a subida para o quarenta e dois.

Quando for a andar na rua e levar com pingos de água vindos da condensação  do aparelho de ar condicionado lá em cima, ou ainda pior, da lavagem de varandas: dê um passo em frente e lute para a subida para o quarenta e um.

E já agora, quando for altura de votar, em vez de apreciar a cara, o fato ou o carisma dos candidatos, ouça o que dizem, ligue o filtro contra-demagogia e empurre-nos a todos para o quarenta.

E é isto.


Wikipédia - Artigo sobre o Terceiro Mundo

IDH - Dados e análises

Banda sonora: Haken - Affinity