quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Cantinho





No meu último artigo, deixei lá para o meio,  uma ideia que ando para explorar há algum tempo. Chegou o dia, agora é que vai ser!

Ouve-se com frequência, chamar Portugal de "o cantinho da Europa", "o nosso cantinho" e outras referências a cantos. Por vezes, até em reputados* órgãos de comunicação social, que supostamente deveriam ter mais cuidado com clichés, lá aparece o chavão do cantinho à beira-mar plantado; ora, este, como quase todos os lugares comuns mal aplicados, falha redondamente ("falhar redondamente" também é um chavão, e sem surpresa, também falha redondamente, bem como noutras formas geométricas).

Este artigo pretende demonstrar que esta coisa do uso do "cantinho" para designar Portugal, não é apenas uma questão de perspectiva, mas também de posicionamento de um povo no seu todo, guiado pelas opiniões e ideias de gente pequena. Digo isto assim, à bruta, sem qualquer intenção pessoal, ou sentimentos de superioridade. É mesmo a constatação de um facto!

A partir do momento em que os nossos intelectuais, cientistas ou empreendedores só são condecorados ou lembrados quando morrem, e ninguém liga ao que fazem enquanto vivos, e, por outro lado, estamos todos os dias do ano a bater palmas a políticos, comentadores de política ou de futebol, atores de novelas televisiva e a cantores de meia-tigela, fica bem claro o que quero dizer com "gente pequena" - é gente que se move exclusivamente nos seus próprios interesses, ao contrário dos primeiros que mencionei, e que procuram, por definição, objetivos mais altos e amplos.


Perspectiva:

Ser cantinho ou não, é uma questão de perspectiva. Eu gosto mais de chamar de pontinha. Cantinho dá ideia de estarmos fechados cá dentro, estarmos virados de costas para o mar e consequentemente o resto do mundo. Cantinho, é acharmos que isto é pequenino e reduzido a uma falsa insignificância. Vamos por um segundo imaginar o continente Europeu sem países, uma espécie de Antártida.

Estão a ver aquela pontinha?


P. Pela observação, aquele bico ali à esquerda, é uma ponta ou um canto?
R. Se estivermos lá dentro, e não conhecermos mais nada à volta, é um canto, a partir de qualquer outro lugar ou se tivermos conhecimento do resto...é uma ponta!


É por causa desta evidência que não gosto de chamar 'cantinho' a Portugal, isso dizia-se no "Tempo da Outra Senhora", o "Orgulhosamente Sós", os "Três Efes"**, é uma reminiscência de um passado que deverá ser lembrado exclusivamente, para que não se repita. Eu proponho, em sua substituição, a ideia expressa por Camões: Ocidental Praia Lusitana! Ora aqui está uma expressão totalmente virada para fora e sem o miserabilismo de "cantinho" - é que não basta ser um canto, ainda o chamam de pequenino, mas não é!

Há oficialmente cinquenta e oito países e territórios no continente Europeu. Em termos de população, o mais pequeno é o Vaticano (graças a Deus!), o maior é a Rússia. Portugal é o décimo sexto. A nossa praia, tem mais gente que, por exemplo: a Suécia, a Dinamarca, a Suiça, enfim, já perceberam.
Se fizermos as contas pelo lado do tamanho, Portugal é o vigésimo primeiro. Somos maiores que a Bélgica e a Dinamarca, e a Holanda é do tamanho do Alentejo, sim a Holanda é um país pequeno!

Vejam os números e depois digam-me se somos assim tão pequenos. Esta ideia salazarenta de sermos minúsculos, tem de ser afastada de uma vez por todas e eu proponho começar pelo cantinho!

Quando Portugal se sagrou Campeão Europeu de Futebol, foi com espanto que ouvi algumas pessoas importantes dizer: "Foi um feito extraordinário para um país tão pequeno". Não, não foi! Foi um feito natural de um país normal, que por acaso é uma potência nessas questões da bola!
E já chega de falar da minha ser maior do que tua, não somos pequenos nem somos grandes, somos o que somos e é com isto que teremos de progredir. (também poderíamos conquistar território a Espanha, mas já foi tentado)


À sombra

Posicionamento

Então digam-me lá, desde quando é que Portugal e os portugueses se isolaram aqui na ponta?
Os nossos avozinhos correram mares desconhecidos em barcos de pau, cheios de vontade e esperança e é assim que nós os honramos? Onde estão esses genes?
É preciso voltar a pensar em grupo e agir de acordo com o resto do mundo, para voltarmos a desbravar esse mar todo.
Precisamos limpar os restos de tempos bolorentos. Agora somos nós que o podemos fazer e não um salvador da pátria qualquer, sim é verdade: o D. Sebastião não vai voltar, o Salazar também já morreu e o Prof. Cavaco está reformado.
Acabemos lá com a história do cantinho e da mania da pequenez, mas também não precisamos de ser os maiores. Eu diria que do oito ao oitenta, seremos um trinta e seis.

Tal como acontece em todos os países, temos cá coisas Muito Boas, Boas, Assim-Assim, Más e Muito Más. Há disto em todo o lado. A Jamaica tem o Bolt e a erva, o Reino Unido tem a Rainha e o brexit, nós temos o Ronaldo (já agora, não acentuem o 'o' de Ronaldo, é feio. O nome do rapaz não é Rónaldo, e deve soar 'runaldo' ou no máximo 'rônaldo') e os brandos costumes.

Abaixo o Cantinho da Europa!
Nós somos é o Pontão do Mundo!

E é isto.


Banda Sonora:
Hey you - Pink Floyd


Créditos da Imagem da Antártida:
Por Bosonic dressing - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0,

*reputado - andava para escrever esta palavra há que tempos! (gosto de pensar que reputação significa voltar ao bordel).

**os três efes - o artigo não é muito bom, mas dá uma ideia a quem não souber ao que me refiro.

wikipédia - países europeus por população, não inventei os números.